Aproveitamento energético de áreas degradadas por resíduos sólidos

1 Maio, 2019 0 Por admin

Autor: Ana Rafaela Sobrinho de Miranda


A disposição de resíduos sólidos inserida na realidade brasileira conta atualmente com 2.064 aterros sanitários, 2.042 lixões/aterros controlados e 1.104 áreas de disposição não informadas, segundo dados da Confederação Nacional de Municípios (CNM). Entre os aterros sanitários com aproveitamento energético, pode-se se citar o Aterro de Caieiras no Estado de São Paulo, que possui sistema de captação do Biogás, para geração de eletricidade na Usina Termoverde Caieiras. Trata-se de uma das maiores termelétricas movidas a biogás do Brasil, com potência instalada de 29,5 MW, que gera energia a partir do resíduo disposto no aterro sanitário de Caieiras.

A Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei 12.305/10, estabeleceu metas para eliminação e recuperação de áreas degradadas por resíduos sólidos, conhecidas como lixões e aterros controlados. A Lei incentiva uma gestão integrada de resíduos sólidos, estimulando inclusive o uso de logística reversa, prática que promove o compartilhamento da responsabilidade do ciclo de vida do produto com a indústria produtora. Mesmo com a extensão de prazos para cumprimentos de suas metas, a PNRS trata de diretrizes que direcionarão o Brasil ao patamar de importantes países desenvolvidos, principalmente, no que concerne à práticas mais sustentáveis.

Como o cenário de aproveitamento energético passa, então, a ser visto não mais como uma oportunidade, mas sim como uma exigência, importantes abordagens tecnológicas para a conversão energética de resíduos sólidos têm se convergido para um contexto de soluções sustentáveis híbridas. Com isso, benefícios econômicos, sociais e ambientais se aderem à importantes conjunções de remediação e reuso, integrando a possibilidade de geração de eletricidade por processos de combustão e/ou por ciclos termodinâmicos de potência.

Conhecida mundialmente como Waste to Energy (WtE), a prática de transformar lixo em energia faz uso de um conjunto de ações que proporciona desde a redução da quantidade de resíduos sólidos dispostos, até à importante redução do impacto ambiental das emissões de gases de efeito estufa. Não obstante e, até mesmo, muito próxima à esse contexto, a PNRS, ao incentivar a recuperação energética e a remediação de áreas degradadas, aproxima a realidade brasileira à uma importante evolução tecnológica.

Iniciativas internacionais fazem uso de importantes práticas de reutilização de aterros, além da conversão energética dos resíduos. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (United States Environmental Protection Agency – EPA) lançou um projeto chamado RE-Powering America’s Lands, que envolve a instalação de sistema de geração de energia renovável (principalmente solar – fotovoltaica e heliotérmica), em aterros e áreas contaminadas que foram encerradas.

Pode-se dizer que o estado de conhecimento atual sobre algumas rotas tecnológicas de geração de energia renovável favorece e alia-se às restrições de reuso de áreas degradadas. No caso de energia fotovoltaica, por exemplo, importantes avanços tecnológicos nas placas foram alcançados, como geomembranas de células PV (Photovoltaic), que possuem sistema de fixação alternativo, adaptando-se à diferentes declives do solo.

Como forte tendência mundial, o aproveitamento energético passa, então, a ser visto não só sob o cenário de uma única fonte de energia, como a conversão direta dos resíduos ou a queima do biogás. Mas, sim, como a possibilidade de aproveitamento da complementaridade entre diferentes plantas de geração, onde um recurso intermitente passa a ser compensado por sistemas reserva, aumentando a eficiência e a confiabilidade na geração.

Dado o cenário apresentado, é possível notar que, aliando-se a quantidade de lixões existentes no Brasil às exigências da PNRS e ao alto potencial brasileiro de geração de energia renovável, nota-se o direcionamento de um rico aproveitamento energético, com possibilidade de alta eficiência na integração de diferentes fontes de energia. Isso pode levar o país a se tornar uma importante referência no reuso de áreas degradadas, enriquecendo ainda mais sua matriz energética, que já se compõem de quase metade de fontes renováveis, diferenciando-se da matriz energética mundial, em sua maioria composta por fontes não renováveis.

 

INFORMAÇÕES DA COLUNISTA

 

Engenheira de Energia, Mestra em Sistemas Mecatrônicos e Doutoranda em Ciências Mecânicas pela Universidade de Brasília (UnB). Professora de Eletricidade e Mecânica dos Fluidos no curso de Engenharia Civil do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – UNICEPLAC. Faz pesquisas na linha de Energia e Ambiente, voltadas principalmente para geração de energia por fontes renováveis, recuperação energética e remediação ambiental.