A Partir do Zero

26 Abril, 2019 0 Por admin

Autor: Dr. Pablo Diniz Batista


É difícil dizer quais são os caminhos que nos levam a escolher uma Linguagem de Programação em detrimento de outras. A primeira resposta que me vem à cabeça rapidamente é que ao longo desses anos em contato com essa ferramenta não tive muitos entravas que me levariam a abandonar a Linguagem C, apesar de tantas possibilidades.

O primeiro convite surgiu do contato com professores e pesquisadores na área de Física Estatística durante a graduação em Física em um momento em que muitos utilizavam o Fortran como uma ferramenta de programação. Apesar do fascínio em modelagem estatística me mantive próximo a linguagem C enquanto desenvolvia pacientemente meus primeiros modelos de propagação de epidemias.

Passados alguns anos, durante o mestrado em Física Médica Aplicada à Medicina e Biologia, tive a oportunidade de trabalhar com algoritmos para a reconstrução de imagens em Tomografia Computadorizada. Dentro dessa área de pesquisa surgiu meio que de repente a possibilidade de utilizar MATLAB como uma alternativa à linguagem C. Entende-se que O MATLAB é um tipo de linguagem dedicada à Matemática e por isso contem logo de partida muitas das rotinas essenciais ao Processamento Digital de Sinais tão presente nos algoritmos que eu descobria paulatinamente pela primeira vez ao lidar com o tema do mestrado, como por exemplo, a tão famosa Transformada de Fourier e de quebra o algoritmo para a Transformada Rápida de Fourier que aos poucos eu tentava implementar em C por pura curiosidade.

Emendando o doutorado logo depois do mestrado na mesma Universidade, mergulhei meio que por acaso em um grupo de pesquisa voltado para o desenvolvimento de sensores de pH a partir de dispositivos semicondutores. Não era estranho que mais cedo ou mais tarde acabaria me esbarrando com o LabVIEW, principalmente em situações onde se fazia necessário o desenvolvimento de programas para a automação e controle de experimentos visando a caracterização dos dispositivos que o grupo de pesquisa fabricava. Aos poucos eu descobria um outro mundo ao desenvolver programas que se comunicavam com diferentes instrumentos científicos para caracterizar eletricamente os nossos sensores de pH, mesmo sabendo que o LabVIEW tinha quase tudo que o grupo de pesquisa precisava, na verdade, acrescentaria hoje que ele tinha talvez muito além do necessário.

Enfim, esses exemplos foram apresentados rapidamente apenas para dizer que por alguma razão, eu continuava usando e abusando da Linguagem C, mesmo diante de tantas facilidades que surgiram durante esses vinte anos envolvido em pesquisa científica na área de Física, tendo como uma das principais ferramentas a Linguagem C. Por isso às vezes ainda me pergunto, por que nunca dei o braço a torcer. A reposta nem sempre é trivial.

Talvez o que sempre tenha estado presente nesses vinte anos era a curiosidade e o desafio que os problemas relacionados à linguagem de programação nos apresentavam dia após dia, de tal maneira que o produto quase sempre perdia o sentido. Não tenho muitas dúvidas de que o mais relevante dessa caminhada era o processo pelo qual os algoritmos e programas eram pensados e implementados. Assim, em um processo de formação académica não encontrava muito sentido em usar pacotes fechados, pois algo me dizia que era preciso entender um pouco mais como o mundo dos algoritmos havia sido construído ao longo do tempo.

Esse percurso, sempre a partir do zero, contribuiu para consolidar uma formação sólida na área de Física Experimental compreendendo que a Linguagem de Programação tem um papel relevante dentro de qualquer Laboratório de Pesquisa tanto para análise quanto para a obtenção de dados.

À guisa de conclusão, espero que a partir desse espaço possa compartilhar alguns truques relacionados à Linguagem de Programação que surgiram durante todo esse longo processo de aprendizagem.

 

INFORMAÇÕES DO COLUNISTA

 

Possui curso técnico em Eletrônica pela Escola Técnica Federal de Goiás, graduação em Física pela Universidade Federal de Goiás e em Filosofia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em Física Aplicada à Medicina e Biologia pela Universidade de São Paulo. Entre 2009 e 2018 atuou como tecnologista pleno do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e atualmente é docente no Instituto Federal de Brasília Campus Ceilândia. Tem experiência na área de Física Experimental, com ênfase em Instrumentação Específica de Uso Geral em Física, atuando principalmente nos seguintes temas: instrumentação científica, microcontroladores, Linguagem C/C++, sensores de pH, amplificador lock-in, sensores óticos para detecção de glicose.