Segurança é Questão de Empregabilidade!

24 Junho, 2019 0 Por admin

Autor:  Eng. Eletricista Júlio César da Silva


Esta era a frase estampada no verso do crachá de uma multinacional onde eu acabara de ser contratado no ano de 2005. Meu segundo emprego no qual eu teria contato com riscos, não apenas com eletricidade, mas também, asfixia, queimaduras a quente e a frio, trabalhos em altura, sistemas pressurizados, com gases de diversas composições químicas, trabalhos em espaços confinados, acompanhamentos de içamento de tanques, membranas usinas de nitrogênio, riscos de choques mecânicos com partes móveis em máquinas rotativas, contaminação com agentes físicos, químicos e biológicos, mergulhos, viagens constantes e etc.

O valor dado a segurança nesta empresa era muito alto. As análises eram mais rigorosas do que as exigidas pela legislação. Treinamentos e capacitações eram constantes. A estratégia era a cultura da prevenção. Todos os funcionários, clientes, prestadores de serviço, estavam contemplados pelas políticas e normas internas da empresa. Mas, ainda tivemos alguns eventos embora sem vítimas, que poderiam ter tomado proporções catastróficas. Eventos os quais proporcionaram um grande aprendizado, e trago comigo até os dias atuais. Citarei aqui para que possamos obter conhecimento, não limitando nossa visão somente aos riscos inerentes com eletricidade. Doravante, nós profissionais da área de eletricidade, teremos grandes reflexões, despertando a nossa consciência para cultura de segurança.

Vamos ao relato.

-Ao chegar no pátio da empresa pela manhã, por volta das 07:00h estacionei o carro de ré, conforme orientação de segurança. Havia uma carreta realizando um abastecimento em um tanque de Oxigênio líquido, nas Condições Normais de Temperatura e Pressão (CNTP), o oxigênio torna-se líquido à temperatura -182,96 °C (ponto de ebulição) sendo moderadamente criogênico.

Em fração de poucos minutos subiu uma nuvem densa cobrindo toda a visibilidade do pátio, devido à umidade relativa do ar estar a um nível elevado, o líquido criogênico reagiu de forma acelerada com o ar atmosférico. Assim, o alarme da unidade começou a soar alto, e no meio da fumaça de gás, um colega começou a pedir socorro, o qual era um engenheiro de atendimento a clientes, que havia acabado de estacionar seu carro, um pouco distante de mim.

*Alguns agravantes no pátio: Uma planta de enchimento de cilindros de acetileno (índice de inflamabilidade 3 vezes maior que o do GLP gás de cozinha) e que possui alta capacidade de ignição. Na quadra da empresa, na área externa, havia um posto de gasolina.

-Tínhamos então que ir para o ponto de encontro da unidade. Mas como? Não conseguíamos enxergar nada. E até então não sabíamos que gás era aquele, pois gases medicinais não são odorizáveis. Mas era oxigênio? Sim, mas veja o que diz a FISPQ do produto( Frases de perigo (GHS-BR) : H270 – PODE CAUSAR OU INTENSIFICAR O FOGO; OXIDANTE H281 – CONTÉM GÁS REFRIGERADO; PODE CAUSAR QUEIMADURAS OU LESÕES CRIOGÊNICAS).

-Olhando para o alto enxerguei o poste de iluminação, como conhecia bem a área, utilizei o mesmo como referência para chegar ao ponto de encontro, peguei o capacete no carro e agachado me desloquei, com o capacete na mão a frente, realizando movimentos semicirculares, a fim de evitar choques com algum obstáculo que pudesse encontrar no caminho. Detalhe! Em casos de incêndio ou eventos desta natureza. Encontraremos ar de qualidade para respiração, a até 60 cm do solo. Motivo este, pelo qual adotei este tipo de movimento.

 

Resumindo:

O motorista havia abandonado o posto de serviço, com a bomba de abastecimento ligada, para preenchimento da nota fiscal, no escritório na parte interna do prédio da unidade. O tanque encheu, porém a bomba da carreta não desliga automaticamente, por consequência, a válvula de segurança da carreta atuou, efetuando a abertura, seguindo o ajuste de pressão para o qual foi calibrada, despejando assim o líquido criogênico em alta vazão para a atmosfera.

O técnico de segurança do trabalho rapidamente estava presente no local. Utilizando os equipamentos de proteção individual exigidos para aquela situação, inclusive máscara autônoma MSA com cilindro.

Seguindo procedimentos adotados pela empresa. Desligou a bomba de abastecimento, descongelou as válvulas com água, cessando assim o transvasamento de líquido criogênico da carreta. Posteriormente realizou a contagem dos funcionários da unidade no ponto de encontro onde repassou as informações de que a situação estava controlada.

O motorista foi demitido na hora!

Conforme escrito em seu crachá: “Segurança é questão de empregabilidade!

 

INFORMAÇÕES DO COLUNISTA

 

Júlio César da Silva, Engenheiro Eletricista pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Pós graduado em Ciências da Segurança Pública – CIESP, curso desenvolvido pela Superintendência da Academia Estadual da Segurança Pública em parceria com a Universidade Estadual de Goiás. Técnico em Eletrotécnica pela Escola Técnica Federal de Goiás, atual IFG. Técnico em Mecatrônica pela Faculdade de Tecnologia SENAI Ítalo Bologna, membro da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas – Seção Goiás (ABEE-GO).