Tira a Mão do Meu IF – Parte 1

24 Junho, 2019 0 Por admin

Autor: Dr. Pablo Diniz Batista


O meu primeiro contato intenso com um computador aconteceu provavelmente no ano de 1994. Eu tinha perto de 15 anos de idade. Naquela época era comum um grupo de pessoas conhecidas se encontrarem para fazer um consórcio, entretanto, o bem a ser sorteado todo mês era uma quantia em reais, ao contrário de uma moto, um carro, uma casa etc. Foi dessa maneira que minha mãe apareceu um dia com um 486 embalado em uma caixa de papelão no apartamento para onde tínhamos nos mudado recentemente.

Por muito tempo, eu sempre iniciei a minha história a partir dessa memória translucida de adolescente, pois essa é uma das janelas que adentro para buscar alguns pontos que marcaram o meu processo de aprendizagem. Porém, hoje será diferente, pois recentemente forças estranhas dilatam parte de minhas memórias em uma tentativa de fazer com que eu compreenda um pouco mais sobre a minha relação com o mundo da programação que tanto contribuiu para o meu jeito desengonçado de andar de bicicleta pelas ruas das cidades caçando pichações como esta que agora colore esse texto.

Voltemos, então, ao ponto de partida, sempre o ponto zero. O primeiro contato com a programação aconteceu na antiga Escola Técnica Federal de Goiás, em Goiânia, ao lado do Parque Mutirama, hoje conhecida também por Instituto Federal de Goiás. Cursava o curso Técnico em Eletrônica sem compreender muito bem o que fazia naquela escola. Assim como hoje, grande parte dos estudantes dos Cursos Técnicos são matriculados nessas escolas a partir de uma certa imagem que os familiares têm sobre os cursos. Alguns acreditam que uma formação profissional é muito mais interessante do que um Ensino Médio voltado apenas para o vestibular. Era o que meu pai acreditava, portanto, o meu caso não era diferente, e para ele, eu precisava de uma profissão. Hoje venho descobrindo, meio que por acaso, que a antiga Escola Técnica englobava o que muitos denominam por Educação Profissional.

Várias lembranças saltam aos olhos nesse instante que agora se abre nessa página. Foi entre aquelas cadeiras que tive contato com o meu primeiro texto de Filosofia, A origem da desigualdade entre os homens, escrito por Jean Jacques Rousseau e publicado em 1755. Esbarrei também com a Sociologia por meio de um pequeno livro, que agora não me recordo o nome, mas que apresentava a disputa pela terra desde a formação do Brasil, por meio das Capitanias Hereditárias. Através deste livro era possível entender até mesmo o massacre de Eldorado do Carajás em 1996 em que dezenove sem-terra foram assassinados.

Recordo também que a antiga Escola Técnica tinha um refeitório onde todos os dias nos encontrávamos para as nossas refeições após uma imensa fila onde conversamos tranquilamente. Os esportes estavam sempre presentes e o nosso time de futebol de salão ganhou três Interclasses. Tinha laboratórios para todos os cantos da escola, de Física, de Química, de Biologia e da área técnica. A biblioteca era imensa, dois andares, eu carreguei dois ou três livros sobre o Sistema Operacional em Disco (DOS) e Programação para casa todos finais de semana por um longo tempo. Foi nesta Escola que tive também as minhas primeiras aulas de violão, os primeiros acordes sem pestana; não posso esquecer de deixar escapar a vergonha que impedia de participar do grupo de Teatro apesar de tamanha admiração.

Entretanto, você deve estar agora se perguntando o que todas essas lembranças têm a ver com um texto que deveria versar sobre a Linguagem de Programação? A resposta nem sempre é trivial e darei continuidade em nosso próximo artigo. Até lá!!

 

INFORMAÇÕES DO COLUNISTA

 

Possui curso técnico em Eletrônica pela Escola Técnica Federal de Goiás, graduação em Física pela Universidade Federal de Goiás e em Filosofia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em Física Aplicada à Medicina e Biologia pela Universidade de São Paulo. Entre 2009 e 2018 atuou como tecnologista pleno do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas e atualmente é docente no Instituto Federal de Brasília Campus Ceilândia. Tem experiência na área de Física Experimental, com ênfase em Instrumentação Específica de Uso Geral em Física, atuando principalmente nos seguintes temas: instrumentação científica, microcontroladores, Linguagem C/C++, sensores de pH, amplificador lock-in, sensores óticos para detecção de glicose.